A importância de se chamar Greenspan
Kaminomoto enviou-nos esta mensagem:
Alan Greenspan deixou ontem um sério alerta aos mercados financeiros que pode mudar de forma "dramática" o comportamento das bolsas de todo o mundo nos próximos meses, incluindo Portugal.Escolhi a expressão “dramática” porque foi essa a palavra usada pelo ex-presidente da Reserva Federal dos EUA no seu discurso.
Greenspan falava ontem, via satélite, para uma audiência reunida em Madrid a propósito de uma conferência subordinada ao tema “ExpoManagement 2007”.
Que disse ele? A subida dos mercados accionistas chineses é “claramente insustentável”. Mas não ficou por aqui. Acrescentou ainda que “vai haver, mais cedo ou mais tarde, uma contracção dramática” das bolsas daquele país. Não admira: desde o início do ano, o índice chinês que reúne as 300 maiores empresas cotadas tanto na Bolsa de Xangai como na Bolsa de Xenzen – o CSI 300 – valorizou 90%.
As poucas alternativas de investimento naquele país – onde os depósitos dão retornos negativos – levaram a uma corrida às acções pelos investidores nacionais e a prova disso são as 300 mil contas que se abrem por dia nas corretoras chinesas.
Adicionalmente, os grandes gestores de fundos mundiais viraram-se para a região asiática nos últimos anos, onde as taxas de crescimento económico na casa dos dois dígitos e leis mais favoráveis ao investimento estrangeiro atraíram biliões de dólares.
Não é pois de estranhar que os mercados chineses estejam na berra. Aliás, em 2006, o volume de negócios em operações de estreia de empresas em bolsa, através de Initial Public Offerings (IPOs) foi o mais elevado de sempre.
Só no ano passado, ocorreram 140 novas entradas de empresas em bolsa, no valor de 62 mil milhões de dólares (46 mil milhões de euros), um valor que supera os 48 mil milhões de dólares verificados no conjunto da New York Stock Exchange, Nasdaq e American Stock Exchange, segundo um estudo da PricewaterhouseCoopers.
As palavras de Greenspan são uma pedrada no charco para todos os investidores que apostam nos mercados financeiros. Porquê? Porque o homem de 81 anos que liderou a política monetária da maior economia do mundo entre 1987 e Janeiro de 2005 – quase 20 anos! – foi um dos principais responsáveis por um dos maiores - senão mesmo o maior - ciclos de crescimento económico dos EUA do século XX.
Mas também porque soube sempre antecipar, antes de tudo e todos, as tendências dos mercados financeiros. Foi ele quem, em meados dos anos 1990, alertou para a “exuberância irracional” vivida nas bolsas pelo fenómeno das “dot.com”.
Foram muito poucos, na altura, que acolheram o aviso de Greenspan. Mas tal como Mister Alan previra, a 10 de Março de 2000 teve início uma das maiores derrocadas bolsistas da história que atirou os mercados para uma queda de 75% (medida pelo índice Nasdaq). Uma avalanche que só terminou no final de 2003.
Outro factor que vem dar ainda mais peso às palavras de Greenspan é a sua maneira de comunicar com os mercados. A forma encriptada de passar a sua mensagem era uma característica muito apreciada pelos mercados que se deliciava a tentar interpretar os seus enigmas.
Por isso, há aqui outra questão que se levanta: se, para alertar para o perigo do esvaziamento da bolha “dot.com”, Greenspan usou um eufemismo tão suave como a “exuberância irracional”, o que pensar quando ele vem a terreiro afirmar, de forma tão clara, que vai haver uma “contracção dramática”?
Há ainda que analisar o contexto em que o alerta foi lançado. Terminou ontem uma ronda de dois dias de conversações entre o secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, e a sua congénere chinesa, Wu Yi, com o objectivo de suavizar as relações comerciais entre os EUA e a China.
As negociações acabaram com acordos no sector dos serviços financeiros e no da aviação, mas que não deverão ser suficientes para convencer o Congresso a cancelar sanções económicas ao gigante asiático.
O que mostra que o aviso de Greenspan foi pensado, ponderado, cirúrgico. E a mensagem tem ainda mais peso, tendo em conta que o ex-presidente da Fed raramente se pronuncia publicamente sobre os mercados.
Apenas o faz quando os considera necessários. A 26 de Fevereiro passado, afirmou que uma recessão da economia americana estava no horizonte, levando a uma breve correcção dos mercados accionistas mundiais que começou precisamente na China.
Feitas as contas, Alan Greenspan é humano e pode estar errado. Mas as suas previsões são ouvidas quase como dogmas religiosos. Porque estão sustentadas em provas dadas ao longo dos anos. Por isso, hoje não será um dia bom para estar no mercado.
Alan Greenspan deixou ontem um sério alerta aos mercados financeiros que pode mudar de forma "dramática" o comportamento das bolsas de todo o mundo nos próximos meses, incluindo Portugal.Escolhi a expressão “dramática” porque foi essa a palavra usada pelo ex-presidente da Reserva Federal dos EUA no seu discurso.
Greenspan falava ontem, via satélite, para uma audiência reunida em Madrid a propósito de uma conferência subordinada ao tema “ExpoManagement 2007”.
Que disse ele? A subida dos mercados accionistas chineses é “claramente insustentável”. Mas não ficou por aqui. Acrescentou ainda que “vai haver, mais cedo ou mais tarde, uma contracção dramática” das bolsas daquele país. Não admira: desde o início do ano, o índice chinês que reúne as 300 maiores empresas cotadas tanto na Bolsa de Xangai como na Bolsa de Xenzen – o CSI 300 – valorizou 90%.
As poucas alternativas de investimento naquele país – onde os depósitos dão retornos negativos – levaram a uma corrida às acções pelos investidores nacionais e a prova disso são as 300 mil contas que se abrem por dia nas corretoras chinesas.
Adicionalmente, os grandes gestores de fundos mundiais viraram-se para a região asiática nos últimos anos, onde as taxas de crescimento económico na casa dos dois dígitos e leis mais favoráveis ao investimento estrangeiro atraíram biliões de dólares.
Não é pois de estranhar que os mercados chineses estejam na berra. Aliás, em 2006, o volume de negócios em operações de estreia de empresas em bolsa, através de Initial Public Offerings (IPOs) foi o mais elevado de sempre.
Só no ano passado, ocorreram 140 novas entradas de empresas em bolsa, no valor de 62 mil milhões de dólares (46 mil milhões de euros), um valor que supera os 48 mil milhões de dólares verificados no conjunto da New York Stock Exchange, Nasdaq e American Stock Exchange, segundo um estudo da PricewaterhouseCoopers.
As palavras de Greenspan são uma pedrada no charco para todos os investidores que apostam nos mercados financeiros. Porquê? Porque o homem de 81 anos que liderou a política monetária da maior economia do mundo entre 1987 e Janeiro de 2005 – quase 20 anos! – foi um dos principais responsáveis por um dos maiores - senão mesmo o maior - ciclos de crescimento económico dos EUA do século XX.
Mas também porque soube sempre antecipar, antes de tudo e todos, as tendências dos mercados financeiros. Foi ele quem, em meados dos anos 1990, alertou para a “exuberância irracional” vivida nas bolsas pelo fenómeno das “dot.com”.
Foram muito poucos, na altura, que acolheram o aviso de Greenspan. Mas tal como Mister Alan previra, a 10 de Março de 2000 teve início uma das maiores derrocadas bolsistas da história que atirou os mercados para uma queda de 75% (medida pelo índice Nasdaq). Uma avalanche que só terminou no final de 2003.
Outro factor que vem dar ainda mais peso às palavras de Greenspan é a sua maneira de comunicar com os mercados. A forma encriptada de passar a sua mensagem era uma característica muito apreciada pelos mercados que se deliciava a tentar interpretar os seus enigmas.
Por isso, há aqui outra questão que se levanta: se, para alertar para o perigo do esvaziamento da bolha “dot.com”, Greenspan usou um eufemismo tão suave como a “exuberância irracional”, o que pensar quando ele vem a terreiro afirmar, de forma tão clara, que vai haver uma “contracção dramática”?
Há ainda que analisar o contexto em que o alerta foi lançado. Terminou ontem uma ronda de dois dias de conversações entre o secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, e a sua congénere chinesa, Wu Yi, com o objectivo de suavizar as relações comerciais entre os EUA e a China.
As negociações acabaram com acordos no sector dos serviços financeiros e no da aviação, mas que não deverão ser suficientes para convencer o Congresso a cancelar sanções económicas ao gigante asiático.
O que mostra que o aviso de Greenspan foi pensado, ponderado, cirúrgico. E a mensagem tem ainda mais peso, tendo em conta que o ex-presidente da Fed raramente se pronuncia publicamente sobre os mercados.
Apenas o faz quando os considera necessários. A 26 de Fevereiro passado, afirmou que uma recessão da economia americana estava no horizonte, levando a uma breve correcção dos mercados accionistas mundiais que começou precisamente na China.
Feitas as contas, Alan Greenspan é humano e pode estar errado. Mas as suas previsões são ouvidas quase como dogmas religiosos. Porque estão sustentadas em provas dadas ao longo dos anos. Por isso, hoje não será um dia bom para estar no mercado.
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