Vá lá, só uma medalhinha!

Sei que vou mexer num assunto sensível. Sei que a discussão acerca de assuntos da pátria gera sempre controvérsia e muitas vezes opiniões radicalizadas. Contudo, o sentimento de frustração que me assola, leva-me pelo menos a desabafar, e por cá fora o que me vai na alma.

Antes de mais, tenho de por a questão relativa ao que significará para um atleta de alta competição Português participar nos Jogos Olímpicos. Este é o meu ponto principal. É com esta pergunta que todos deveríamos iniciar quaisquer análises que venham a efectuar ao até agora mísero desempenho dos nossos atletas em "Beijing". E depois da pergunta aparecem-nos as mais variadas respostas, pois cada caso é um caso, e cada atleta terá a sua maneira de encarar a forma como deverá representar Portugal numa competição desportiva à escala planetária.

E aqui começam as divergências: uns julgam que será mais do que suficiente culminar a preparação desportiva de 4 anos apenas com uma participação honrosa, que lhes permita pelo menos iniciar e concluir as provas em que participem, independentemente de os resultados obtidos serem aceitáveis ou não; outros, por falta de formação ou defeito de personalidade, julgam que apenas por irem aos Jogos, o País lhes deveria prestar rendidas homenagens e, quiçá, recompensá-los com uma choruda mensalidade, que lhes permitisse continuar a treinar em regime de exclusividade; outros, poucos, entendem ser um dever representar condignamente o nosso país, e por isso deixam a "pele em campo", pois mais vale quem quer do quem pode; outros ainda, por indiscutíveis capacidades físicas/psicológicas para a prática do desporto, chegam facilmente aos Jogos, inclusive no topo dos "rankings" das modalidades que praticam, assumem-se como favoritos, para depois, triste fado o nosso, não serem capazes de sustentar a pressão de se auto-proclamarem como candidatos a uma medalha...

Seria longa a lista de respostas à pergunta que formulei. Infelizmente longa.

Mas para além da pergunta que enunciei, há uma que, retumbante, ecoa no meu pensamento:
Porque razão gasta o meu país tanto dinheiro com atletas de alta competição em centros de alto rendimento, preparando-os, treinando-os, incentivando-os, se depois, "when the going gets tough", a grande maioria claudica estrondosamente, sendo inclusive alguns muito pouco dignos na hora do desaire?

A esta eu acho que sei responder. Aliás, acho até que a resposta é muito simples e óbvia. Nós vivemos num país que não se preocupa com os resultados que obtêm a partir dos investimentos que efectua. Ninguém quer saber se aquilo que produzimos terá utilidade ou será de qualidade suficiente para produzir o retorno adequado. Produz-se apenas porque se tem de produzir, porque o PIB precisa, porque o chefe manda, porque é preciso trabalhar apenas porque temos de nos manter activos, para não deixarmos de ser "ÚTEIS".

E eu questiono esta utilidade deturpada. Questiono as razões que terão levado um país como o nosso a enviar 78 atletas (!) aos Jogos Olímpicos. Questiono a utilidade de, certos e determinados dirigentes governativos, useiros e vezeiros nos aproveitamentos políticos de eventos desportivos, terem levantado as expectativas dos Portugueses, de tal forma que muitos julgavam estarmos na iminência de uma revoada de medalhas.Q questiono a capacidade de modernização de um COI obsoleto, que nunca olhou para o desporto escolar como a fonte dos futuros sucessos do nosso desporto, com uma política fraca na formação, que sempre privilegiou a quantidade em vez da qualidade, e que envergonhadamente vem agora aos poucos acordando para a triste realidade do nosso desporto de alta competição.

Alguns dirão que ainda é cedo para este tipo de considerações, e eu aceito-o. Quando escrevo este tipo de coisas nunca quero ter razão. Detesto ter razão nestes assuntos. Porque sou Português, porque quero fazer boa figura lá fora, porque quero mostrar ao mundo as coisas boas que se fazem em Portugal, porque necessito deste tónico de felicidade patriótica espelhado numa medalha ao peito de um atleta em representação do meu país. Por falar em representação do meu país, onde estão os nossos desportos colectivos nestas Olimpíadas? Ficaram por cá, não foi?

Valha-nos a Vanessa, a Naíde, o Nelson, e todos os outros que condignamente venham a representar o nosso país nos Olímpicos. E pelo amor de Deus, provem que eu estou errado.

Vá lá, só uma medalhinha!

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