Para reflectir...
Porque pelos vistos continua actual, porque as manobras no CJ da FPF continuam a existir, porque a desfaçatez de quem polui o nosso futebol lhe permite manter o "status quo" adquirido, recupero hoje um pequeno texto que escrevi acerca dos casos Apito Final e Apito Dourado, e em que relato uma história burlesca que se passou há algum tempo e que teve honras de abertura de jornais televisivos e 1.ªs páginas em quase todos os jornais diários publicados no nosso país. Trata-se de um texto de humor. Uma sátira aos feudos e senhores feudais que ainda existem no nosso futebol. Mas vamos à história porque isso é que interessa:
1. As escutas.
Ora bem, a discussão acerca da admissão ou não das escutas prende-se pura e simplesmente com o facto de as mesmas não serem admissíveis para crimes com moldura penal inferior a 3 anos. Isto daria total razão aos defensores da nulidade das mesmas não fosse o facto, pelos vistos insignificante pois tem sido ignorado pela maioria dos fazedores de opinião que temos tido a oportunidade de ouvir nos vários meios de comunicação social, de os juízes do apito dourado não terem ainda conseguido alterar as acusações de que vários dos principais arguidos são alvo, para crimes de abuso de poder. Este facto seria fulcral pois trata-se de um crime que permitiria desconsiderar completamente as escutas telefónicas que são a base do processo como todos já ouviram falar.
2. O caso Carolina.
É aqui que bate o nabo. Como se já não bastassem as escutas surge a figura do arrependido, muito usada e badalada na justiça dos EUA, que permitiu a reabertura de vários processos, agravando ainda mais a situação de alguns dos arguidos que se viram forçados a constituir defesa e assim terem de responder por algo que já julgavam estar esquecido e enterrado.
3. O Benfica age.
Na sequência de toda esta embrulhada na justiça, o Benfica resolve exigir à LPFP que se pronuncie no âmbito disciplinar acerca do conteúdo das escutas, munindo-se das certidões que entretanto solicitara junto dos tribunais encarregues de avaliar este caso.
4. A decisão.
Num acto sem precedentes na justiça desportiva Portuguesa, a Comissão Disciplinar da LFPF condena vários dos arguidos nos tribunais comuns a penas várias, indo desde a simples multa, a suspensões por vários anos e inclusive a penas de descida de divisão. Tudo isto, por ser inédito, foi encarado com a já habitual arrogância e ironia por vários dos visados, pessoas essas que se chegaram a permitir a emissão de comunicados à CMVM e a promoção de conferências onde anunciaram não se importarem com as decisões entretanto decretadas, não as julgando inclusive suficientemente importantes para carecerem de recurso.
5. A bomba.
O acto arrogante, sustentado na sensação habitual de impunidade destes senhores tem repercussão lá fora chegando aos ouvidos sempre atentos da UEFA. É neste momento que tocam os sinos a rebate e, de repente, surgem no reino da corrupção as primeiras vozes dissonantes entre os apaniguados de El-Rei supra-sumo, de cognome, "O irónico". Então não é que havia a possibilidade de exclusão da Liga dos Campeões? E da possibilidade rapidamente se passou à certeza.
6. A troca de faxes.
Funcionário zeloso do seu dever cívico e na certeza de agir para o bem da Justiça Desportiva em Portugal, o Dr. João Leal, responde com celeridade ao pedido de informação da UEFA, com a comunicação das penas, dos visados e da certeza das mesmas se terem tornado efectivas, ergo transitadas em julgado, pois as mesmas foram admitidas pelos visados, tendo as multas inclusive sido liquidadas e as classificações finais aceites sem qualquer tipo de reserva por um dos clubes visados neste processo. Acto contínuo a UEFA decide e bem, que haveria um clube de Portugal que seria excluído da Champions em benefício de outro do mesmo país, que passava a ocupar a vaga em aberto, como indicado no regulamento da referida prova.
7. Da amnésia e do amnésico.
Aqui d’El-rei!!! O prédio desaba!!! Construção tão habilmente edificada ao longo de tantos anos de cimentação da falsidade e da desonestidade, não poderia ruir sem que de repente de todos os lados surgissem, os escoradores a soldo do construtor principal possuidor de alvará à mais de 20 anos. E assistiu-se a todo o tipo de desinformação, intervenções de comentadores, jornalistas, advogados, políticos, "directores de catering", enfim, de toda uma panóplia de filhos e afilhados do sistema, enquanto, no submundo, o braço armado deste polvo gigante se preparava para lançar sobre alguns dos intervenientes neste processo o pior vírus que alguma vez já afectou a Justiça do Desporto Português. A Amnésia! E assim foi, com amnésia o contagiaram e amnésico ficou o nosso caro Dr. João Leal, e de tal forma foi afectado que quando questionado sobre o transito em julgado da já internacionalmente famosa sentença, apenas pode balbuciar: "humm, pois, talvez, sabe eu não estava bem em mim, parece que ainda existe uma possibilidade de recurso por parte desse clube... Pois é, talvez o que escrevi não tenha sido bem assim, olhe, não sei..."
8. Estupefacção.
Foi esta a reacção dos juízes da comissão de apelo da UEFA, o que os levou inclusive a afirmar: " As únicas certezas deste processo são as dúvidas". E estupefactos ficámos todos. Como era possível que o polvo tivesse tentáculos no exterior? Será que nem a UEFA poderia ser imparcial neste processo? Nem com toda a prova apresentada, inclusive entretanto produzida pelos próprios corruptos assumidos? A verdade é que a estratégia acabaria por resultar levando à anulação da decisão da primeira instância e a admissão de determinado clube na competição europeia de onde inicialmente tinha sido expulso.
9. A acalmia antes da tempestade.
E assim ficámos todos, sujeitos à chacota dos antes excluídos e a pensar que nunca a justiça seria servida, até porque o clube acusado de corrupção tinha sido convidado, pelo relator do processo no CJ, a juntar-se ao seu presidente no recurso que este revelou ir entregar junto do órgão máximo da Justiça Desportiva Portuguesa. Tudo acalmou, até os principais prejudicados serenaram, ou pelo menos assim todos o julgavam.
10. As primeiras vagas alterosas.
De repente, devido à pressão dos associados de determinado clube, as comadres zangam-se, e num volte-face algo inesperado, os dois clubes queixosos entregam petição conjunta para apresentação de recurso junto do órgão principal da Justiça Desportiva Europeia, o TAS. A necessidade de resolver o caso em tempo recorde leva à solicitação de urgência na apreciação do recurso entretanto apresentado no TAS. A UEFA demonstra os primeiros sinais de desconforto na pessoa do seu Presidente, o qual através de palavras muito claras e de dureza indesmentível, salienta a sua determinação e a do órgão a que preside, em desmascarar os batoteiros, isto sem descurar a necessidade de ir informando, que era primordial a pronuncia dos órgãos de Justiça desportiva competentes para o efeito em Portugal de forma inequívoca e irrevogável.
11. Ouve-se o ribombar dos trovões.
De repente a 16 de Junho, numa reunião preliminar de apreciação e "apalpação" promovida pelo Presidente do CJ, o grande vereador sem pelouro de Gondomar, personagem de grande relevo neste processo obscuro e sujo, sabe-se que o relator do processo tinha intenção de manter a decisão emitida pela Comissão Disciplinar da liga no que toca ao processo levantado a El-Rei "O irónico".
12. A tempestade aproxima-se.
Alarmados, os navegantes desta nau já ferida de morte e com estragos acentuados ao nível da quilha, tentam a todo o custo calafetar os rombos entretanto agravados pelo navegar da embarcação em mar de muitos escolhos. Fazem-se contas, puxa-se da máquina de calcular, 4-3, 4-3, repete-se com insistência. Como é possível, perguntam-se outros. Nada fazia prever isto, pois tudo estava mais que combinado. E combinado ficou, que algo se teria de fazer. A nau não poderia afundar. Não sem que o seu Capitão e um dos seus 1.ºs imediatos tentassem num golpe de leme desesperado, tornear a tempestade e voltar a colocar a embarcação em mares menos revoltosos.
13. A manobra.
Chega-se o dia. Há uma estranha calma no ar, aquela calma que todos nós já sentimos quando se aproxima um grande temporal. Todos se reúnem, envoltos numa paz podre, e começam a decidir. Decidem até ao momento em que o homem do leme julga chegada a altura do golpe desesperado. Numa tentativa vã de evitar que lhe seja entregue a mancha negra, chama à parte um dos seu imediatos e diz-lhe que devido ao facto de não poder ocupar o seu posto com as divisas de outro, teria de o considerar dispensado de todo o serviço a bordo da sua nau moribunda. O subordinado diz-lhe que não, que teria direito a um julgamento justo entre os seus pares o qual exigia acontecesse de imediato.
14. Começam a romper-se as velas.
Num crescendo de fúria os ventos revoltosos iam retirando ao temeroso Capitão o que restava do seu pouco sangue frio. Assume a sua decisão, bate o pé. Ou vamos todos para este lado ou deixo-vos aqui num esquife sem timoneiro e vou-me embora com o barco e uma tripulação de dois mais um amnésico.
15. O Milagre da cura.
Ao ver-se envolvido na disputa da mancha negra, subitamente, como por artes miraculosas, o amnésico recupera momentaneamente a sanidade e resolve entrar em contacto com o homem do farol, solicitando-lhe um SOS, pois a nau navegava fatal e perigosamente em direcção às falésias, empurrada por um fortíssimo vento de lei. O homem do farol responde de imediato e deixa-lhes instruções expressas para continuarem a reunião sem se deterem com as manobras desesperadas do Capitão. Joguem-no ao mar se for preciso, mas a reunião tem de acabar senão a capitania da UEFA enfia-me no brigue.
16. Os factos mais graves.
Na sequência da moção de censura o Presidente do CJ exige o fim da reunião, diz que sem ele aquilo não pode continuar. Os vogais já fartos da tempestade resolvem destituí-lo, considerando-o impedido preventivamente, aprestando-se para continuar o rumo da reunião sem o seu Capitão/Presidente. O Presidente declara encerrada a navegação no que é secundado pelo seu 1.º imediato/promotor de eventos de catering e, acto contínuo, saca de um papel já manuscrito que trazia dentro da sua pasta, afirmando que se tratava de uma "IATA".
17. A loucura.
Que raio, interrogam-se os conselheiros. Terá o homem pirado de vez? Mas que raio é uma iata? Ó homem mas qual iata? - Interroga o Abreu. Sim, qual iata? - Secunda-o o Leal. Ai que o homem agora perdeu os parafusos. - Sussurram os conselheiros entre eles. O Abreu levanta-se e diz: Ó homem leve a iata ou lá o que isso é, e vá pró raio que o parta! O Presidente ficou que nem um bicho-do-mato. Enrubesceu. Fungou. Debruçou-se sobre a sua pasta, enrolou a iata e repetiu: Ouviram? Ele mandou-me para o raio que me parta!
18. A noite das facas longas.
A madrugada avança, lá fora a ansiedade da comunicação social está em crescendo. Os homens do Presidente saem para jantar com uma calma olímpica. Tem de decidir hoje senão a UEFA pode cumprir a grave ameaça de suspender a FPF das competições europeias caso o recurso do TAS lhe seja desfavorável. Regressam do jantar e continuam os processos de avaliação dos recursos. O Madaíl aguarda nervosamente junto do telefone pela comunicação da obtenção do fumo branco. Cerca das 02h 30m de 05/07/2008 surge a decisão histórica. Grita-se cá fora "Habemus Papa!". Eu estando acordado aquela hora (sim estava com espírito de missão), pergunto-me: Temos Papa ou vamos deixar de o ter? Ouço na rádio a confirmação, Boavista desce de divisão e Pinto da Costa suspenso por 2 anos! Rejubilo! Até que fim. Realmente a justiça (para alguns deveria ser vingança mas para mim não) tarda mas desta vez não falha.
19. Segunda-feira pós-apocalíptica.
Resolvi nada ligar a este processo durante o dia de segunda-feira. O esforço a que me submeti durante este dias tirou-me muitas horas de sono e tenho de fazer uma pausa, sob pena de em vez de ligar fios e quadros eléctricos começar a fazer curto-circuitos e sobrecargas no sistema. Falta a parte administrativa da questão e tal como eu já tinha afirmado noutros locais, ninguém será notificado antes do sorteio. Continua adiada a promulgação da pena de morte. Ouço falar o Presidente do Boavista por alturas do sorteio. Juro que foi a única coisa que ouvi durante o dia de segunda. Parece que é um tal de Braga Júnior. Bom, e parece que como um Júnior nestas andanças se comportou pois chegou ao meu conhecimento que o recurso do Boavista foi entregue ao CJ para apreciação sem estar assinado por advogado, como o torna obrigatório o Regimento deste Conselho, tendo sido considerado nulo pelos Vogais. Ah, agora se compreende. Daí a razão dos 5-0. Bem me parecia que teria de ter havido algo extra CJ, para ter existido tanta unanimidade...
Este texto pretende ser um resumo divertido e irónico, do rocambolesco processo que culminou segunda-feira com a engasgada admissão de validade da decisão CJ, por sua excelência El-Rei Dom Madaíl, de cognome "O comprometido". Na graça do Reino de Sua Majestade Dom Cavaco I, escrito pelo punho do escriba real nunomaf, ao Sétimo Dia do mês de Julho do Ano 2008 da Graça de Nosso Senhor...
Post Scriptum
Apesar de o texto já ter quase dois anos, podemos hoje comprovar que continua bem actual. Os métodos de operação e a persistência dos envolvidos leva a que eu reforce a idéia que tenho acerca do papel da FPF no meio disto tudo. Será totalmente impossível erradicar o "sistema" de vez enquanto não houver uma vassourada na FPF (porra que já pareço o Queiróz a falar...).
Podem vir vinte Ligas, vinte Presidentes das ditas cujas, vinte Conselhos de Disciplina que nada sofrerá a mínima alteração. Quem ditas as leis no nosso futebol é uma entidade que está fora das mesmas. Uma entidade de inutilidade pública como já foi catalogada por outrém.
Comentar é fácil dirão uns. Criticar também. Mas, pelos vistos, muito mais fácil será sucumbir aos interesses obscuros que mancham todos os dias os nosso futebol.
O difícil meus amigos será permanecer fora deste submundo e ter de aturar decisões espatafurdias como a de considerar os "stewards" público. Apenas e só porque este era o único enquadramento dentro da lei desportiva que garantia um ponto de escape aos prevaricadores.
Por isso este texto que agora recupero continua actual. Actual e tão natural como a arbitrgaem de Artur Soares Dias no passado Braga - Guimarães. E olhem que esta até ao Prof Jesualdo Ferreira arrancou um comentário em jeito de ironia: "eu já sabia que dependia de terceiros... agora que dependia de quartos é que é uma novidade para mim".
Quanto mais não seja dará para alguns reflectirem...
Podem vir vinte Ligas, vinte Presidentes das ditas cujas, vinte Conselhos de Disciplina que nada sofrerá a mínima alteração. Quem ditas as leis no nosso futebol é uma entidade que está fora das mesmas. Uma entidade de inutilidade pública como já foi catalogada por outrém.
Comentar é fácil dirão uns. Criticar também. Mas, pelos vistos, muito mais fácil será sucumbir aos interesses obscuros que mancham todos os dias os nosso futebol.
O difícil meus amigos será permanecer fora deste submundo e ter de aturar decisões espatafurdias como a de considerar os "stewards" público. Apenas e só porque este era o único enquadramento dentro da lei desportiva que garantia um ponto de escape aos prevaricadores.
Por isso este texto que agora recupero continua actual. Actual e tão natural como a arbitrgaem de Artur Soares Dias no passado Braga - Guimarães. E olhem que esta até ao Prof Jesualdo Ferreira arrancou um comentário em jeito de ironia: "eu já sabia que dependia de terceiros... agora que dependia de quartos é que é uma novidade para mim".
Quanto mais não seja dará para alguns reflectirem...
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