América Latina
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Posso assegurar que pelo menos um dos vinhos é muito bom porque tenho hábito de o beber e chegou a fazer parte da famosa lista do Wine Spectator.
Para quem não conhece o mercado de vinho Espanhol é importante realçar que uma grande parte dos vinhos produzidos no país vizinho tem padrões de sabor orientados para a gulodice (são vinhos de sabor apetitoso, de sabor intenso e que sabem muito a fruta) e dentro de um determinado perfil de consumo internacional. Isto não quer dizer que os vinhos Portugueses sejam piores, contudo quem esteja habituado a beber vinho Espanhol estranha o sabor dos nossos.
Por outro lado em Espanha é possível comprar vinhos com relação qualidade/preço superior aos Portugueses. Entre 5 a 7 € é possível comprar vinhos que em Portugal andam na casa dos 9 a 11 €, pelo que para o consumidor Espanhol beber vinho bom no nosso País significa pagar muito mais do que estão habituados.
Isto vem a propósito daquilo que o nosso país de está a tornar. Hoje de manhã em todos os telejornais a notícia de abertura era a grande penalidade que tinha sido incorrectamente assinalada a favor do Benfica há dois dias atrás na final da taça da liga que acabou por interferir no resultado jogo.
Em Setembro, quando o país ia mergulhado a caminho da crise o governo patrocinou um acordo para construção de casas sociais com o governo da Venezuela presidido por Hugo Chavez e o grupo económico Lena. Na altura o negócio foi com muito alarido tendo-se seguido outros (fornecimento do computador Magalhães). No passado fim-de-semana ficamos a saber que o negócio foi desfeito porque o governo venezuelano reviu o seu orçamento em baixa e não tem dinheiro para pagar a construção. A Venezuela assenta a sua política no populismo fomentado pelas exportações do petróleo. Este tipo de indústria para ser eficiente depende muito dos investimentos feitos para aumentar a margem de refinação, ou seja a diferença entre o preço venda do barril de petróleo ditado pelos mercados internacionais e o preço de custo de extracção do petróleo bruto e por outro lado os custos de manutenção das instalações. Tendo procedido à nacionalização das infra-estruturas existentes, o estado venezuelano apenas está interessado em tirar partido do rendimento das exportações. Brevemente a indústria petrolífera tornar-se-á obsoleta e tudo mudará.
Já no inicio do ano o jornal expresso que noticiou o cancelamento da construção das casas, adiantava num artigo de opinião que Sócrates no seu espírito combativo estava a criar condições para que a economia Portuguesa pudesse minimizar os efeitos da crise abrindo mercados alternativos como o venezuelano e o angolano.
Agora resta-nos as obras públicas, o novo Aeroporto de Lisboa o TGV e mais umas auto-estradas para dar trabalho às empresas de construção que em nada contribuem o crescimento futuro da nossa economia. A construção não implica o desenvolvimento tecnológico e como tal isso não nos traz nenhuma vantagem competitiva internacional, bem como nenhuma notoriedade.
Entretanto também se falou durante a semana que passou a rapidez com que o julgamento de Fritzl decorreu na Áustria. Em Portugal havia quem arriscasse que em casos urgentes a nossa justiça é capaz da mesma rapidez. Por falar em coisas rápidas a eleição do provedor de justiça é mais um belo exemplo da forma como a nossa democracia funciona e da colecção de cargos políticos que o partido socialista controla para diminuir a qualquer intenção de oposição às políticas do governo (tribunal de contas, banco de Portugal, etc). A propósito, no Domingo à noite, Marcelo Rebelo de Sousa referia que o cargo deveria ser ocupado por uma pessoa na pujança da sua carreira profissional e que estivesse orientado para as novas tecnologias, que soubesse usar o e-mail, dizia ele a sobre a proposta de Jorge Miranda adiantada pelo PS. Eu não sei se o professor de direito constitucional tem dificuldade em usar um computador, mas sou da opinião que deve ser uma pessoa experiente e com um conhecimento aprofundado do sistema judicial, nada relacionada com pujança. Nesta caso necessitamos de um sábio.
Por último temos o computador Magalhães com erros de Português num programa educativo. Passadas duas semanas dos erros terem sido detectados o programa já não vem instalado por instruções do Ministério da Educação. O pior são os que já estão em circulação cujos utilizadores não têm conhecimentos para desinstalar os programas com os erros. Também haverá o caso em que algumas máquinas nem sequer chegam a sair da caixa porque os professores não sabem nem querem fazer nada com elas (mas afinal não é função de um professor, alguém que ensina, encontram novos processos de aprendizagem?) e por isso não há que preocupar em fazer a desinstalação. Esta questão dos erros demonstra que por detrás do conceito não existe uma linha de orientação dos conteúdos por parte do Ministério o que me parece grave.
Voltando à história inicial dos Espanhóis, se Portugal fosse um país reconhecido internacionalmente de certeza que teriam feito outro julgamento sobre o vinho e se calhar teriam ficado pela primeira garrafa. De certeza que teriam dito: “que vinho fantástico que sabor diferente”!
Comentários
Permita-me discordar, com uma pequena grande excepção: a necessidade de realização destes referidos investimentos neste (muito mau) momento.
Aeroporto, tenho sérias dúvidas. TGV Lisboa-Madrid buraco garantido. Lisboa-Porto (nova linha de AV poderá custar mais de cinco mil milhões de Euros para poupar 30 minutos relativamente ao Alfa Pendular) abstenho-me de comentar. Finalmente Porto-Vigo dúvidas.(não esquecer Aveiro-Salamanca, Faro-Huelva, tudo cumprindo os Acordos assinados com nuestros hermanos, ie, Figueira da Foz e Santiago de Compostela...e somos ou não homens de palavra????). No entanto, e seriamente, não deixa de ser importantíssimo para Portugal resolver a questão da bitola Europeia. Ponto Final!
Por fim mais AE’s, grande buraco e total disparate.
Agora quanto crescimento futuro da economia.....a construção não implica o desenvolvimento tecnológico logo vantagem competitiva internacional nula, notoriedade........ Num enquadramento de lógica de investimento produtivo em I&D puro, novas teconologias, etc., concerteza que não é comparável. No entanto, existem alguns (bons) exemplos de desenvolvimento tecnológico, seja telemática, a via verde ou os novos sistemas de cobrança de portagens reais. Nesta perspectiva estes são, na minha opinião, vantagens competitivas reais e factores de notoriedade.
Nas grandes empresas de Obras Públicas a área de I&D bem como a ligação desta ao ensino (FEUP´s etc) é uma realidade e já com importantes desenvolvimentos (asfaltos, betão, revolucionários métodos de construção de Pontes.....). Por fim, não pretendo defender outras virtudes ao modelo de “crescimento” através das Obras Públicas. No entanto, e em certos momentos, as Obras Públicas são o motor da economia.......